sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Neurônios individuais têm poder computacional

 

Redação do Site Inovação Tecnológica - 13/08/2010

Neurônios individuais têm poder computacional

Um neurônio do córtex visual de um camundongo recebeu um corante fluorescente para que seus dendritos pudessem ser visualizados. Um laser fez disparos sobre os dendritos para ativar grupos de impulsos em diferentes ordens. A resposta elétrica do neurônio foi diferente para cada sequência de impulsos.[Imagem: Tiago Branco/Hausser Lab: UCL]

As células individuais do cérebro são surpreendentemente eficientes na detecção de diferentes sequências temporais nas informações que chegam até eles.

A descoberta contesta uma noção longamente aceita pelos cientistas de que esse tipo de processamento no cérebro exige grandes números de neurônios trabalhando em conjunto.

Pobres transistores

Apesar de cada vez menos aceita pelos neurocientistas, a comparação do cérebro humano com um computador sempre considerou que os neurônios seriam os transistores - os componentes básicos do cérebro, mas incapazes de qualquer computação quando isolados.

A descoberta contesta essa ideia, mostrando que os neurônios individuais - e até mesmo os dendritos, os pequenos elementos receptores dos neurônios - são dispositivos computacionais excepcionalmente poderosos.

"No dia-a-dia, nós precisamos constantemente usar informações sobre sequências de eventos a fim de entender o mundo ao nosso redor. Por exemplo, na linguagem, uma coleção de diferentes sequências do mesmo conjunto de letras ou sons montados em sentenças somente fazem sentido conforme a ordem em que esses sons ou letras são montados," explica o Dr. Tiago Branco, da Universidade College London, na Inglaterra.

O cérebro humano é particularmente eficiente no processamento de sequências de informações. Por exemplo, cita Branco, os mais modernos computadores têm grande dificuldade de decifrar uma sequência rápida de palavras que uma criança de cinco anos de idade entende perfeitamente.

"Como o cérebro é tão bom em distinguir uma sequência de eventos de outras é algo que não é bem compreendido mas, até agora, a crença geral era de que esse trabalho era feito por um grande número de neurônios trabalhando em conjunto," diz ele. Essa crença agora foi derrubada.

Poder computacional dos neurônios

Estudando o cérebro de um camundongo, os pesquisadores monitoraram os neurônios em áreas do cérebro responsáveis pelo processamento dos impulsos sensoriais dos olhos e da face.

Para verificar como esses neurônios respondiam às variações na ordem em que um determinado conjunto de impulsos era fornecido, os cientistas usaram um laser para ativar os dendritos em padrões precisos, e mediram a resposta elétrica dos neurônios.

Primeiro, um neurônio do córtex visual do camundongo recebeu um corante fluorescente para que seus dendritos pudessem ser visualizados. A seguir, um laser fez disparos minúsculos e superprecisos sobre os dendritos para simular sinapses e ativar grupos de impulsos em diferentes ordens.

Os cientistas descobriram que cada sequência produz uma resposta diferente, mesmo quando o impulso é enviado para um único dendrito.

A resposta elétrica do neurônio foi diferente para cada sequência de impulsos, permitindo a identificação, a partir dessa resposta, dos padrões disparados pelo laser para dendritos individuais, assim como para padrões disparados aleatoriamente pela árvore dendrítica.

Usando modelos teóricos construídos a partir de seus dados, os pesquisadores demonstraram que a probabilidade de que duas sequências diferentes sejam distinguidas uma da outra pelo neurônio individual é incrivelmente alta.

"Esta pesquisa indica que os neurônios individuais são decodificadores de sequências temporais de informações, e que eles podem desempenhar um papel significativo na ordenação e na interpretação da enorme quantidade de impulsos recebidos pelo cérebro," afirma o professor Michael Hausser, coordenador do estudo.

Bibliografia:
Dendritic Discrimination of Temporal Input Sequences in Cortical Neurons
Tiago Branco, Beverley A. Clark, Michael Häusser
Science
12 August 2010
Vol.: Science Express Reports
DOI: 10.1126/science.1189664

Fonte: Inovação Tecnológica

Ricardo M. Beskow

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Memória de plástico usa spin do elétron para guardar dados

Redação do Site Inovação Tecnológica - 10/08/2010

Memória de plástico usa spin do elétron para guardar dados

A "memória spintrônica orgânica" é uma ponte entre os computadores atuais e uma sonhada geração de computadores e telas leves e flexíveis, feitos com materiais plásticos. [Imagem: Yoo et al./Nature Materials]

Fazendo uma ponte entre a spintrônica e a eletrônica orgânica, cientistas criaram a primeira memória de computador feita de um material plástico e que utiliza o spin dos elétrons para guardar os dados.

Considerada como uma alternativa promissora à microeletrônica atual, aspintrônica permite armazenar mais dados em menos espaço, processar esses dados mais rapidamente e consumir muito menos energia, virtualmente eliminando o problema do aquecimento dos computadores.

Já a eletrônica orgânica, que usa materiais poliméricos, ou plásticos, já fez sua estreia no mercado na forma telas para celulares, mas deverá fazer muito mais, provavelmente tornando-se a base das telas flexíveis e de enrolar e dos circuitos eletrônicos dobráveis.

Funcionamento da memória spintrônica

Arthur Epstein e seus colegas da Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, descrevem o material usado para construir a nova memória como um híbrido de um semicondutor feito de materiais orgânicos e um polímero semicondutor magnético.

O protótipo é formado por uma fina tira de um ímã orgânico colocada sobre outra tira de um ferromagneto metálico, sendo ambas ligadas a dois conectores elétricos.

O polímero magnético semicondutor é o vanádio tetracianoetanido, o primeiro magneto de base orgânica a funcionar acima da temperatura ambiente.

Os elétrons passam para o polímero e um campo magnético os orienta como spin para cima ou spin para baixo. Os elétrons podem então passar para a camada magnética convencional, mas somente se os spins dos elétrons estiverem com a mesma orientação. Se não, a resistência é muito alta para que eles passem. Assim, os pesquisadores puderam ler os dados de sua memória de spins baseado em se a resistência era alta ou baixa.

Memória spintrônica orgânica

"Nossa maior conquista é que nós usamos este ímã semicondutor à base de polímeros como um polarizador de spin - o que significa que podemos salvar os dados nele usando um pequeno campo magnético - e como um detector de spin - ou seja, podemos ler os dados de volta," explica Epstein. "Agora estamos mais perto de construir um dispositivo feito inteiramente de material orgânico."

A "memória spintrônica orgânica" é uma ponte entre os computadores atuais - eletrônicos (com base no elétron) e feitos de semicondutores - e uma sonhada geração de computadores orgânicos - spintrônicos (com base no spin do elétron) e feitos com materiais poliméricos (ou plásticos).

Alterar o spin de um elétron requer muito pouca energia e praticamente não produz calor. Isso significa que os dispositivos spintrônicos aquecerão menos e poderão funcionar com baterias menores dos que as usadas nos aparelhos atuais. E, sendo inteiramente de plástico, têm o potencial para serem leves e flexíveis.

Sendo uma pesquisa de fronteira, a nova memória atualmente ainda é uma prova de conceito, não estando pronta para ser inserida em computadores reais.

Bibliografia:
Spin injection/detection using an organic-based magnetic semiconductor
Jung-Woo Yoo, Chia-Yi Chen, H. W. Jang, C. W. Bark, V. N. Prigodin, C. B. Eom, A. J. Epstein
Nature Materials
August 2010
Vol.: 9 No 8 pp 638 - 642
DOI: 10.1038/nmat2797


Fonte: Inovação Tecnologica

Ricardo M. Beskow